sexta-feira, setembro 08, 2006

O menino que mijava coca-cola - Capítulo Três

Acompanhado de Firmina e Francisca, Fortunato deixou o almoxarifado pra verificar o que se passava na sala do doutor. Tudo muito esquisito, essa história de mandar coca-cola pra fazer exame não era das coisas que a gente diz que faz sentido. Só que, ao abrir a geladeirinha, o copinho escrito Jesus não era igual aos outros. Não é possível que vocês não sabem que esse copinho só serve pra guardar material dos pacientes. E quando fala material, é porque é xixi ou cocô, completou.

Francisca olhou assustada pra Firmina. Se o material do garoto era xixi e a coca-cola era material do garoto, logo ou o garoto estava mijando coca-cola ou o doutor ficou doido e de uma hora pra outra misturou os copinhos todos. E, como até então não era do conhecimento de ninguém que o doutor tinha ficado louco, restou apenas a primeira opção. Olha, se o que vocês estão falando é verdade, então esse menino resolveu mijar coca-cola, emendou Francisca. E olha que eu bebi e estava bem geladinha, do jeito que a gente nunca vê por aqui.

Ao ouvir as palavras de Francisca, os dois fizeram cara de nojo. Só que a curiosidade foi maior e logo brigavam pelo copo. Ficou decidido dividir igualmente, ninguém queria deixar de repartir a coca-cola com uma etiqueta Jesus. Bastou a primeira degustação e Fortunato deu logo o veredito. Eu já ouvi falar de muita coisa esquisita nessa vida, menino de quatro braços, mula sem-cabeça, potrinho voador. Mas menino que mija coca-cola é a primeira vez.

E o que é que nós vamos fazer a respeito?, indagou Firmina. Aquela coisa maluca de um menino que mija coca-cola atiçou a curiosidade dos três. Alguém sabe onde ele mora?, insistia Firmina. Pelo que ouvi o pai conversando, a casa dele fica na Cabrita, depois do arraial de Mais-Além, dá um tempão andando daqui, respondeu Francisca.

O tal lugar era longe, mas tão longe que nem se imaginava vida por lá. E levou o pensamento dos três tão longe que quando deram por si, o horário de almoço do doutor tinha acabado. Por sorte, ele estava atrasado. Firmina jogou o copinho no lixo e avisou: vou ter que contar pra alguém que entende dessas coisas pra ver o que fazer. Ainda hoje aviso o padre Homero e depois eu falo com vocês.

6 Comments:

At 8:33 PM, Blogger Rodrigo Huagha said...

gostei dessa estória e espero os próximos posts...

 
At 10:49 AM, Anonymous Anônimo said...

Eu estava preocupado com esse sumiço do copinho do Jesus. Agora estou entendendo. Terei que levar alguém pra fazer exame do menino é lá na Cabrita mesmo, porque o material dele nunca vai chegar na cidade.

 
At 10:51 AM, Anonymous Anônimo said...

Mas doutor, você tem que entender que a culpa não foi minha. Quem mandou deixar um copo de coca-cola geladinho esperando pra ser bebido? E agora acho melhor você esquecer esse negócio. A Firmina já vai falar com o Padre Homero.

 
At 10:54 AM, Anonymous Anônimo said...

Mas Francisca, o padre não vai saber resolver o problema, quem resolve isso é a medicina!

 
At 10:55 AM, Blogger Paulo Morais said...

Doutor, pode falar a verdade, você tá perdido igual bezerro sozinho no pasto. Se a medicina resolvesse, você já tinha resolvido o problema. Ou não?

 
At 10:56 AM, Anonymous Anônimo said...

Também acho. Boa, moço!

 

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