segunda-feira, setembro 11, 2006

A desconfiança e a crise de credibilidade

Às vésperas das eleições, o Brasil vive uma crise de falta de credibilidade. Crise que vai além dos aspirantes de cargos públicos e não se vê não apenas na política, mas também na quase falência de diversas das instituições que movem a engrenagem da sociedade. Há sempre uma desconfiança no ar quando, numa conversa qualquer, o brasileiro se depara com temas que envolvem igrejas, imprensa ou internet, só para citar alguns exemplos. Quero propôr uma discussão coletiva para entendermos o que nos deixa boa parte do tempo descrentes de que a sociedade brasileira pode ser melhor. Vou partir do princípio – e este é o caminho que pretendo trilhar nesta discussão – de que os conceitos das instituições vão sendo desvirtuados ao longo do tempo e em muitos casos fica até difícil compreender estes conceitos.

Vamos a um primeiro exemplo prático para levantar a discussão: as igrejas evangélicas. Há milhares delas pelo Brasil e nem todas, infelizmente, atuam com boas intenções. Mas qual é a concepção de uma igreja evangélica? É de um grupo de pessoas cristãs que, por não se sentir satisfeito com o ambiente da igreja que freqüentava, resolve legitimamente seguir uma nova interpretação da fé cristã, a fim de melhor pregar os ensinamentos de Jesus. Isso primeiro aconteceu na reforma protestante européia, depois a idéia ganhou adeptos e novas igrejas foram surgindo pelo mundo, derivadas da católica. No Brasil, essas igrejas atuam há séculos, algumas são derivadas de outras comunidades protestantes, e começaram a se proliferar como nunca a partir do final do século passado. Até que alguém percebeu o poder de massificação da religião e resolveu se beneficiar monetariamente dela. Desde então, o conceito de igreja evangélica como negócio, totalmente desvirtuado do original, ganhou força no imaginário dos brasileiros. E, em conseqüência, a igreja evangélica perdeu em credibilidade.

Para ampliar mais o horizonte desta discussão, sugiro um outro exemplo aparentemente diferente, mas que tem características semelhantes: o sistema prisional. Qual é o conceito do sistema prisional? Ele foi originalmente criado para isolar por um tempo cidadãos que infringiram regras de convivência estabelecidas pela sociedade, a fim de serem tratados e reinseridos na comunidade. Tudo funcionaria muito bem se os presos, ao saírem da cadeia, retornassem à liberdade e jamais voltassem a praticar o delito que causou danos à vida em comum. Porém, o poder público brasileiro – o mantenedor deste sistema – se preocupou apenas com a questão do isolamento, e não com a reeducação para reinserção. O resultado foi que os presos se encarregaram da própria educação, ocupando o espaço deixado vago pelo governo, e criando o que se convencionou chamar de “escola do crime”. Vários ex-detentos voltaram ao convívio em comunidade praticando crimes piores do que aqueles que os levaram ao isolamento e, assim, os ex-freqüentadores das prisões passaram a ser malvistos pela comunidade. Como resultado, todo o sistema prisional caiu em descrédito.

Acredito que os exemplos tenham sido claros, mas insisto em que uma terceira observação pode nos levar a um nível de abstração mais elevado e contribuir para deixar ainda mais claro o conceito da minha discussão. Vamos ao exemplo da bolsa de valores. Elas foram criadas por um grupo de pessoas que precisavam de dinheiro para investir em um novo empreendimento, mas não tinham de onde tirar os recursos. Elas decidiram, então, dividir em cotas os custos da nova empresa com pessoas que guardavam algum dinheiro. Essas pessoas ficavam com as ações da empresa, e a cada ano podiam recolher uma parte do lucro de acordo com a fatia do capital da empresa que possuíam. Tudo ia andando bem, até que um portador de ações percebeu que poderia vendê-la a algum interessado por um preço maior do que aquele que tinha comprado e, pela primeira vez na história, alguém especulou na bolsa de valores. O resultado disso é o que todos conhecem ou podem imaginar.

A par de todos esses exemplos, não defendo uma discussão que sirva para apontar arbitrariamente defeitos nas instituições, mas sim que sirva como ponto de partida para resgatarmos os conceitos que as regem. Sem frescuras acadêmicas, sem regras, sem censura, sem embasamento teórico, sem paixonites partidárias, sem nem ter certeza de que estamos falando verdades, como se fosse uma simples conversa de bar, convido todos para um bate-papo sobre estes e vários outros conceitos. E, como ponto de partida, inicio pedindo que você pense sobre cada uma destas instituições: faculdades particulares, sem-terra, partidos políticos, polícia, traficantes e usuários de drogas, forças armadas, criança esperança, associações de bairros, orkut, blogs. Todas essas instituições ou parte delas te deixam com um ar de desconfiança? Imagino que sim. Imagino que várias outras instituições também os incomodam. Apostaria ainda como muitos de vocês desconfiam deste próprio texto. Só não posso apostar porque desconfio de apostas. Bom, o tema da conversa está proposto. Estão todos convidados.

1 Comments:

At 6:08 PM, Blogger Marla de Queiroz said...

Mas o novo espaço combina bem mais com os seus textos!!!!É o mesmo layuot do meu!!!rsrsrsrsr...Volto depois pra comentar o texto.
Beijos e boa sorte na nova fase.
Semana inspiradora!

 

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