segunda-feira, outubro 16, 2006

Por que fugir do jabá

Outro dia comentei neste blog que faria uma postagem explicando como podemos fazer para fugir do jabá. Mudei de idéia. Vou fazer uma pequena série. E a diferença é que não pretendo explicar como fugir do jabá e sim por que fugir do jabá. Começo discutindo com vocês o motivo que leva uma banda a tocar.

Normalmente, uma banda de música é formada por um grupo de pessoas que, de tanto gostar de fazer música, sonham em, um dia, viver dela. Sonham em poder se sustentar com dinheiro que vem da música. Para isso, precisam fazer suas músicas tocarem nas rádios, precisam aparecer na tevê, precisam fazer shows em casas de espetáculo. Ou seja, precisam fazer sucesso.

Mas, antes de pensar em como uma banda pode fazer sucesso atualmente, é preciso ter conhecimento de como se chega ao sucesso no atual mercado fonográfico brasileiro. E, para entender isso, temos que esclarecer qual é a lógica que prevalece neste mercado ou, em outras palavras, como os artistas e bandas que hoje fazem sucesso conseguiram chegar até lá. Lembrando que esta é uma análise generalizada, suscetível a exceções.

Vamos imaginar uma situação hipotética de uma banda. Ela será ilustrativa, baseada nas opiniões que temos a respeito dos artistas que estão nas paradas de sucesso.

Uma banda de música pop que hoje ocupa grande espaço nas rádios, nos jornais, na televisão e faz shows grandiosos começou, naturalmente, do zero. Provavelmente, tocava na garagem de casa, daí passou a tocar em bares, churrascarias, etc. Até que algumas pessoas perceberam que a música era boa e o som caiu no gosto de alguém.

Depois de tocar nestes lugares reservados, o estágio seguinte para alavancar uma carreira musical parece ser o de ter acesso a uma rádio. Ou seja, dessas pessoas que perceberam que a música era boa, a banda tem que dar a sorte de encontrar alguém que possa a colocar na programação de uma rádio. Para isso, a banda ainda pode, se preferir, tentar buscar um atalho: mostrar um CD de divulgação para o responsável pela programação de uma rádio, por exemplo. Vamos dizer, para resumir, que esta figura é o locutor da rádio.

Consideremos que a música tocou na rádio. Ela pode, agora, cair no gosto de mais pessoas. E, se a sorte soprar a favor da banda, pode ser que alguém ligado a uma gravadora se interesse por ela. Ou seja, depois de agradar a algumas pessoas, chegar a uma rádio, agradar a um grupo maior de outras pessoas, a banda tem que torcer, desta vez, para que alguém de uma gravadora esteja em seu público. Mas, mais uma vez, ela pode buscar um atalho: perguntar ao locutor da rádio se ele tem algum indicado de uma gravadora para tentar mostrar o CD de divulgação. Vamos dizer que esta figura é a do produtor.

Consideremos, pois, agora, que um produtor gostou do que ouviu e resolveu adotar a banda. Para isso, entretanto, ele se encarregará de produzir o material necessário para esta banda fazer sucesso. No caso, além de gravar o CD comercial, o produtor deverá criar material de divulgação para possíveis compradores do CD (cartazes, propaganda na tevê, etc), colocar o CD nas prateleiras das lojas e ainda promover uma agenda de shows que contemple as melhores casas do gênero nas principais cidades.

Para fazer isso tudo, o produtor precisa, evidentemente, de dinheiro. E, para conseguir o dinheiro, ele terá que, evidentemente, convencer alguém a investir nesta banda. Ou seja, este alguém lhe emprestará o dinheiro, que deverá ser devolvido mais tarde acrescido de um lucro. Pela lógica, os produtores são empregados das gravadoras. As gravadoras, por sua vez, têm alguém que controla o dinheiro, decide onde ele vai ser investido.

Em lavanderias, restaurantes, lanchonetes, farmácias, bancas de jornais, quem decide onde o dinheiro vai ser investido é o dono. Pela lógica, não há porque uma gravadora pensar diferente, já que também tem dono e é tão estabelecimento comercial quanto qualquer um destes exemplos. Ou seja, no fim das contas, o produtor, ao adotar uma banda, precisa convencer o dono da gravadora de que ali pode-se encontrar lucro em potencial.

Resumindo: a banda que começou do zero, ensaiou na garagem de casa, tocou em bares e churrascarias e conseguiu agradar a um locutor de rádio; deste, passou para um produtor; por sua vez, este vai recorrer ao dono da gravadora o direito de colocar a banda no mercado. Se o dono da gravadora diz não, está tudo acabado.

Quer dizer, então, que todas as bandas que querem fazer sucesso precisam entrar nesta loteria? Na verdade, acredito que não. Mas então o que fazer? É o que vou tentar comentar numa futura postagem. Até lá.