quarta-feira, setembro 27, 2006

Conversa pra tucano dormir

De Geraldo Alckmin, nos programas eleitorais e nas entrevistas à tevê: “o que o Brasil precisa é de um Plano Nacional de Desenvolvimento”. Vou te dizer uma coisa Alckmin: não, o que o Brasil precisa não é disso. Vejamos por quê.

O Brasil já teve alguns planos nacionais de desenvolvimento nos moldes do que o tucano propõe. O de JK foi o primeiro deles. Trouxe para o país a Volkswagen, abriu estradas e ferrovias, ergueu portos e construiu Brasília, obra-prima daquele governo. Ele fez um serviço necessário ao Brasil, mas também deixou o país com inflação, dívida externa e foi o ponto de partida para o êxodo rural das décadas seguintes, ou seja, iniciou a favelização das metrópoles.

João Goulart veio alguns anos depois e tentou fazer as reformas de base, mas os militares não deixaram. Implantaram o PAEG de Roberto Campos, arrumaram a economia sob uma visão ultraortodoxa e preparam o Brasil para crescimento econômico. E, para legitimar o ilegítimo governo dos militares, criaram um novo plano nacional de desenvolvimento, que apostava, desta vez, em obras faraônicas. Resumindo: Itaipu e Transamazônica.

Foi o tempo em que o Brasil pensou que fazia o bolo crescer pra dividi-lo depois. Não fez nem uma coisa nem outra. E o resultado da brincadeira foi o que aconteceu na década de oitenta. Precisa explicar por que ela é conhecida como a década perdida? Creio que não.

Pois bem. Agora Alckmin, sustentado pelo PFL (a rapa do que sobrou da antiga ditadura), descobriu que o Brasil precisa de mais um desses planos. Ele completou dizendo que vai transformar o país num imenso canteiro de obras. Ou seja, vai repetir o que JK e a ditadura já fizeram. Nos dois casos, creio que não se resolveu o problema do Brasil.

O que o Brasil precisa não é fazer o bolo crescer para depois dividi-lo. Mas, sim, dar oportunidades a quem ficou de fora do bolo durante 500 anos de, desta vez, pensar em como fazer um outro bolo. Não sou contra obras, é óbvio que elas são necessárias. Mas não podemos encará-las como a base de um programa de governo. E não podemos, também, acreditar que o mito das obras é que vai nos salvar.

PS: Paulo Freire, meu guru espiritual e intelectual, foi citado duas vezes ontem na tevê. Apareceu em foto no programa do Cristóvam Buarque e foi citado por Nilmário Miranda no debate em que o Playboy Almofadinha fugiu. Foi uma grata surpresa, pois já havia decidido votar nos dois. Agora, mais ainda.

PS2: A conversa pra tucano dormir serve também para vossa excelência, o Playboy Almofadinha, aquele da mordaça. Em outra postagem, irei comentar sobre o mito do desenvolvimento no projeto da Estrada Real.

6 Comments:

At 3:31 PM, Anonymous Anônimo said...

Paulo,
Continue assim. Seus posts são objetivos e esclarecedores. Parabéns.
Hélia.

 
At 3:44 PM, Anonymous Anônimo said...

Menino. Deixa eu te dizer! Hoje li o blog daquele moço do Fantástico que era da MTV ... como é o nome mesmo?? ... Ah, sim! Zeca Camargo! Pois eu digo que, na escala evolutiva dos textos, parte Paulo da GP vence fácil!!!!

 
At 3:44 PM, Anonymous Anônimo said...

Menino. Deixa eu te dizer! Hoje li o blog daquele moço do Fantástico que era da MTV ... como é o nome mesmo?? ... Ah, sim! Zeca Camargo! Pois eu digo que, na escala evolutiva dos textos, parte Paulo da GP vence fácil!!!!

 
At 9:27 PM, Blogger R.C. said...

Por que Playboy Almofadinha?
Eu sou leeeerda, não entendo essas coisas.
Adorei esse texto. Na verdade edoro textos sobre política, escritos por ti então...
Já disse que adoro isso aqui né?
Um abraço.

 
At 9:19 PM, Anonymous Anônimo said...

Olá, Paulo, entrei no blog de um amigo, daí na da amiga do amigo e vim parar no seu. Muito bom!!Adorei!!

 
At 12:08 PM, Blogger Paulo Morais said...

Raysla, numa próxima postagem irei explicar o porquê do Playboy Almofadinha. Você não perde por esperar. E muito obrigado a todos pelas visitas. Voltem sempre.

 

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