sexta-feira, setembro 15, 2006

O Spam e a credibilidade da rede

Quando, há alguns dias, resolvi escrever esta postagem sobre a desconfiança que nós, brasileiros, empunhamos contra diversas instituições que regem nossa sociedade, citei a internet. Nem de longe minha intenção é caracterizar a rede como algo ruim. Muito pelo contrário, reconheço nela uma das principais – talvez a principal – alternativa para a democratização dos meios de comunicação. Como conceito, a internet é ótima: uma rede onde qualquer usuário pode ter seu espaço, independente de pertencer a um grupo dominante, ao contrário do que acontece com os meios de comunicação de massa, como televisão, rádio, jornais impressos, etc.

A rede é relativamente nova em relação aos demais meios de comunicação e é difícil prever se ela vai fazer jus a essa capacidade que possui. As alternativas que ela tem proporcionado para fazer dos receptores de informação também emissores parecem interessantes. Basta pensar como e-mail, wikipédia, blogs, orkut, entre outros, nos permite postar livremente informações a um grupo de pessoas. Nos meios “tradicionais” de comunicação isso jamais seria possível.

Esse conceito de meio de comunicação livre e democrático, entretanto, também tem seus pesares. Vou dar um exemplo claro. Há duas semanas, fui a uma certa instituição entregar currículo, em busca de emprego. Fui recebido por uma certa diretora que me prometeu entrar em contato por correio eletrônico no caso de uma eventual oportunidade de trabalho. Até aí, a rede cumpre com primazia seu papel de baratear a informação e estreitar laços entre os usuários.

No entanto, alguns dias depois recebo uma correspondência encaminhada por um ex-colega de trabalho. Originalmente, tinha sido enviada pela mesma pessoa que me recebeu na instituição onde pretendo trabalhar. A mensagem trazia o apelo de uma mãe teoricamente em busca da filha desaparecida. A carta implorava aos leitores por compaixão. “Por favor, não ignore, passe para a frente, ajude esses pais desesperados”, dizia o anexo image001.jpg, este que aqui publico:

O remetente da mensagem não se deu o trabalho de verificar a autenticidade do comunicado. Para aliviar meus leitores desta tarefa, resolvi fazer o que todos deveriam, mas raramente fazem: checar as informações. A primeira coisa que fiz foi procurar pela expressão “Maria Cecília desaparecida” no Google. Atitude simples, mas que parece difícil para muita gente. O resultado foi que descobri o nome de quem parece ser a real signatária do apelo: uma certa “Marta Alexandra Sá Oliveira Pinho”. Pesquisando por este nome, descobri que trata-se de uma professora de escola infantil de Portugal. E, continuando a pesquisar, observei que mesmo por Portugal a mensagem já perdeu credibilidade.

No entanto, a mesma pessoa que me enviou o falso apelo também o fez para algo em torno de 40 pessoas (não tive paciência de contar). Vamos considerar que um décimo dos destinatários tenha se sensibilizado pela mensagem e resolvido mandar para outras 40 pessoas. De cara, são mais 160 atingidos. Se outros 10% resolverem repetir o encaminhamento, outros 640 internautas receberão o apelo. Creio que não é necessário continuar esta progressão geométrica para imaginar onde tudo isso vai parar.

O que me preocupa mais não é o simples fato de minha caixa de entrada ser invadida por este tipo de apelo. Dificilmente abro este tipo de mensagem, só o fiz pela credibilidade que tenho em relação ao remetente. Entretanto, ainda ronda a minha cabeça a dúvida em relação ao motivo pelo qual um cidadão com curso superior colabora tão cegamente com a propagação dos spams. Só consigo acreditar que o motivo é a confiança que existe de um modo geral em relação a todos os meios de comunicação. Só que, no caso da internet, o que ela tem de melhor – a possibilidade de democratização – é parente muito próxima do que ela tem de pior – a possibilidade de proliferação de mensagens irresponsáveis, como Spams.

Fica minha decepção ao perceber que, assim como o remetente da mensagem em questão, outros milhares contribuem e continuarão contribuindo para que a internet caia em descrédito. Resta aos usuários trabalhar para manter a credibilidade da rede e perceber que os vírus não estão em arquivos executáveis ou em programas de compartilhamento de música e vídeo, mas sim nos próprios boatos que, infelizmente, continuarão a ser alimentados.

1 Comments:

At 1:51 PM, Anonymous Anônimo said...

Em Portugal este mail ainda não morreu. recebi hoje uma cópia....

 

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