terça-feira, dezembro 05, 2006

Anorexia, Jô Soares e Gisele Bündchen e a falsa mobilização

Peguei o Programa do Jô de ontem (4/12, segunda-feira) em andamento, pois não conseguia dormir. Assim que liguei a tevê, Jô Soares pedia desculpas. O pedido, aliás, demorou um bom tempo. Claro que não cronometrei, mas foi coisa de mais de cinco minutos, tempo precioso para os padrões televisivos.

Mas não era pelo que vocês estão pensando. Jô não pedia desculpas por interromper os entrevistados exaustivamente, por falar mais que os convidados ou simplesmente por ser sem-graça.

O que rolava era um pedido de desculpas para a Gisele Bundchen. Pelo que entendi, numa entrevista que foi ao ar na semana passada sobre anorexia, o telão do programa mostrou uma série daquelas fotos de modelos magrelas que pipocaram na internet desde a morte da tal Ana Carolina Reston.

Uma das fotos apresentadas foi esta:


Na ocasião, o programa embaçou o rosto da Gisele Bündchen para que ela não fosse identificada. Entretanto, isso não o poupou de ter que se retratar.

Provavelmente, a assessoria da modelo entrou em contato com a produção para que houvesse a retratação. Jô Soares, ontem, disse que o programa simplesmente colheu fotos na internet, que se preocupou em preservar a imagem das modelos e que ninguém sabia de quem era foto em questão. Disse, ainda, que a foto é uma montagem de Photoshop, um fake.

Mas, e daí?

E daí que o assunto anorexia é a bola da vez do noticiário. Saiu na capa de todas as revistas, ganhou espaço nos blogs, no Fantástico, nas novelas. Sempre que estoura uma notícia-bomba, dessas boas de vender jornal e revista, é assim.

Lembram-se quando estourou o caso do Pedrinho, o garoto roubado na maternidade? E o do maníaco do parque? O da babá espancadora, que foi linchada na rua?

A mídia adora esses assuntos. Aí, pela lógica de mercado, as discussões ganham a imprensa. Todo mundo fica indignado, pipocam milhares de comunidades no orkut, correntes de e-mail trazem denúncias de tudo quanto é tipo.

Passa quinze dias, no máximo um mês, e ninguém agüenta mais ouvir falar da mesma história, que se "esgotou". Acontece outra notícia-bomba para ocupar o lugar, a mídia investe pesado, todos ficam indignados, fingem uma falsa mobilização e estamos conversados.

Alguém se lembra, por exemplo, quando a Carolina Dieckman raspou a cabeça na novela das oito? Todo mundo ficou sensibilizado com o drama da leucemia e o Brasil bateu recordes de doação de medula. Hoje, entretanto, parece até que o assunto perdeu o sentido.

Moral da história: por que esperar a mídia bombardear uma notícia pra se sensibilizar se tem tanto problema pra ser resolvido por aí?