segunda-feira, janeiro 15, 2007

Chegou a vez de quem é tosco


Foi no início do século passado que alguém descobriu que esse negócio de fazer cultura dá dinheiro. Daí para frente surgiram Hollywood, grandes gravadoras musicais, enormes redes de televisão e a indústria cultural a pleno vapor se fez chegar em um nível de concentração capitalista tão grande que até hoje a vitória dos que lutam pela democratização da comunicação parece inalcançável.

Pode até parecer. Os grandes estúdios de cinema, grandes empresas de televisão e gravadoras de discos sempre nos ofereceram produtos tecnicamente perfeitos. Bonitinhos, mesmo que ordinários.


Mas na prática o que acontece é que sempre que tem alguém fazendo algo bonitinho, tem também alguém do lado de cá da pirâmide social interessado em fazer alguma coisa diferente. São realizadores que se apegam mais à criatividade do que a pirotecnias tecnológicas. Senão, vejamos.


José Mojica Marins, o famoso Zé do Caixão, é um exemplo. Tem no currículo a direção de 37 filmes, todos independentes, sustentando um número de fazer inveja a diretores respeitados no Brasil, país que historicamente é conhecido pela dificuldade em se fazer cinema.


Este ano, Zé do Caixão volta à cena para terminar as filmagens do último episódio da trilogia iniciada em 1963 com o filme À meia-noite levarei sua alma e continuada em 1967 com Esta noite encarnarei no teu cadáver. Fazia 20 anos que ele não dirigia nada. O terceiro capítulo da série é intitulado A encarnação do demônio.


Em entrevista à Folha Online, ele conta que, neste filme, tem o apoio de uma equipe de 70 técnicos, sendo que em suas filmagens tradicionais teve, no máximo, 15 pessoas auxiliando-o. Isso, garante ele, não o impede de usar soluções criativas, como fez na cena de Esta noite encarnarei no teu cadáver em que contrasta consigo próprio, fazendo o papel de coveiro e demônio.


Na ocasião, ele tampou metade da lente da câmera e filmou em dois tempos usando meio cenário por vez. Por criações como esta, Zé do Caixão ganhou prêmios na Europa e, a partir de então, virou cult e ganhou respeito por aqui.


Bom, vamos a outro exemplo, desta vez importado do México: Roberto Gomez Bolaños. Quem? Tinha que ser o Chaves! Bolaños é o criador do Chaves e do Chapolin, definitivamente a única coisa que presta exibida pelo SBT desde que Sílvio Santos ganhou de lambuja do governo federal a concessão de tevê só porque era queridinho da esposa do ex-presidente Figueiredo.


Chaves é um programa simples, de figurino e cenário altamente toscos. Mas é criativo, consegue ser engraçado mesmo depois de a gente já ter visto o mesmo episódio milhares de vezes.


Não é à toa que os episódios de Chaves compartilhados no YouTube estão acumulando altos índices de audiência. Alguns episódios estão beirando a marca de 1 milhão de visitas, número alcançado somente por grandes “sucessos de público”, como o vídeo da Daniela Cicarelli na praia e o enforcamento de Saddam Hussein.


E parece que virou moda redublar episódios do Chaves. Um que anda circulando por aí é o Chaves maconheiro, também conhecido por Tráfico na Vila, que exibido em mais de uma versão no YouTube já ultrapassou 900 mil visitas.


Outro pessoal do mundo tosco que vem fazendo sucesso no YouTube são os humoristas do Hermes e Renato. Capítulos da novela Sinhá Boça ou quadros dos programas Palhaço Gozo e Cláudio Ricardo têm mais de 100 mil acessos cada. Destaque também para a Escola de recuperação para baitolas, que está chegando às 200 mil visitas.


E pode até parecer que só os toscos que tiveram espaço na televisão fazem sucesso no YouTube. Mas, para terminar segue outro exemplo de sucesso tosco: os vídeos do adolescente Guilherme Zaiden. Só pra se ter uma idéia, o vídeo caseiro Confissões de um emo, que parece ser o mais famoso, teve 580 mil acessos até hoje.


Fica no ar a pergunta: porque hoje o tosco vem fazendo sucesso? Uma sugestão: câmeras e filmadoras digitais e webcams se popularizaram tanto nos últimos tempos que o fato de muita gente poder fazer e divulgar vídeos na rede valorizou o jeito tosco de filmar. As últimas propagandas da Skol (aquelas do o que você vai contar para os seus netos?) não me deixam mentir. É a primeira vez que vejo um comercial tosco produzido por uma grande empresa para o horário nobre.


Aproveite você que conseguiu chegar até aqui e assista A revolta dos bifes, mais uma dessas produções de um bando de desocupados.

6 Comments:

At 2:41 AM, Blogger R. B. Dillinger said...

Cara, eu acho que o tosco as vezes tem uma "qualidade" melhor que o bem produzido. Claro que nem todos. Esses do Guilherme Zaiden, o garoto tem futuro, é engraçado e faz umas críticas legais nos vídeos!
Valeu pelo comentário.
Abraço!

 
At 7:54 AM, Anonymous Anônimo said...

Pois é, tem gente que embora seja intitulada de "tosco", consegue muitas vezes surpreender com um roteiro bacana ou com jogos de cena muito bem feitos.

Embora eu não curta muito Chaves, é um exemplo da idéia simples, porém bem feita.

Um abraço!

Nanci - da comunidade "Eu tenho um Blog", do orkut :-)

 
At 1:17 PM, Blogger R.C. said...

Eu não tenho muita paciência para assistir à tv, mas adooooooooro Hermes e Renato. Por mais idiotas que sejam!
A crítica que eles fizeram à Polícia Militar, no Chapa Quente, em que os pm's pintavam a mão, fazendo de conta que era arma.
E a crítica às igrejas capitalistas com a Igreja Pentecostal Loucuras de Meu Deus.
rs
Olhe que eu conheço muita gente que me critica por gostar deles, mas assiste Faustão...
"Isso é encosto".
rs

Nossa! Tem um tempo que eu não venho aqui, né?

Espero que eu não me ausente mais.
É bom te ler, mesmo os seus posts sendo graaaaaaaaandes. risos

Beijo.

 
At 6:25 PM, Blogger mel said...

Zé do Caixão é ótimo! Morria de medo dele quando eu era pequena, mas ele é ótimo assim mesmo, hehehehe!!!
Também acho que o Chaves é a única coisa que presta no SBT, e agora tem até desenho do Chaves, hahaha! E tem aquele vídeo do Kiko dançando, ótimo também!
Ah, o tosco é legal. Na verdade, tem o tosco legal e o tosco horrível. A propaganda da Skol é engraçada, hahaha.

 
At 12:08 AM, Anonymous Anônimo said...

o legal é que às vezes a tosquice da forma denota algo muito bom de conteúdo! e a recíproca, também, é verdadeira...

 
At 7:39 PM, Anonymous Anônimo said...

Tosco são os Contos Bregas: www.contosbregas.zip.net

 

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