Conversa pra tucano dormir
De Geraldo Alckmin, nos programas eleitorais e nas entrevistas à tevê: “o que o Brasil precisa é de um Plano Nacional de Desenvolvimento”. Vou te dizer uma coisa Alckmin: não, o que o Brasil precisa não é disso. Vejamos por quê.
O Brasil já teve alguns planos nacionais de desenvolvimento nos moldes do que o tucano propõe. O de JK foi o primeiro deles. Trouxe para o país a Volkswagen, abriu estradas e ferrovias, ergueu portos e construiu Brasília, obra-prima daquele governo. Ele fez um serviço necessário ao Brasil, mas também deixou o país com inflação, dívida externa e foi o ponto de partida para o êxodo rural das décadas seguintes, ou seja, iniciou a favelização das metrópoles.
João Goulart veio alguns anos depois e tentou fazer as reformas de base, mas os militares não deixaram. Implantaram o PAEG de Roberto Campos, arrumaram a economia sob uma visão ultraortodoxa e preparam o Brasil para crescimento econômico. E, para legitimar o ilegítimo governo dos militares, criaram um novo plano nacional de desenvolvimento, que apostava, desta vez, em obras faraônicas. Resumindo: Itaipu e Transamazônica.
Foi o tempo em que o Brasil pensou que fazia o bolo crescer pra dividi-lo depois. Não fez nem uma coisa nem outra. E o resultado da brincadeira foi o que aconteceu na década de oitenta. Precisa explicar por que ela é conhecida como a década perdida? Creio que não.
Pois bem. Agora Alckmin, sustentado pelo PFL (a rapa do que sobrou da antiga ditadura), descobriu que o Brasil precisa de mais um desses planos. Ele completou dizendo que vai transformar o país num imenso canteiro de obras. Ou seja, vai repetir o que JK e a ditadura já fizeram. Nos dois casos, creio que não se resolveu o problema do Brasil.
O que o Brasil precisa não é fazer o bolo crescer para depois dividi-lo. Mas, sim, dar oportunidades a quem ficou de fora do bolo durante 500 anos de, desta vez, pensar em como fazer um outro bolo. Não sou contra obras, é óbvio que elas são necessárias. Mas não podemos encará-las como a base de um programa de governo. E não podemos, também, acreditar que o mito das obras é que vai nos salvar.
PS: Paulo Freire, meu guru espiritual e intelectual, foi citado duas vezes ontem na tevê. Apareceu em foto no programa do Cristóvam Buarque e foi citado por Nilmário Miranda no debate em que o Playboy Almofadinha fugiu. Foi uma grata surpresa, pois já havia decidido votar nos dois. Agora, mais ainda.
PS2: A conversa pra tucano dormir serve também para vossa excelência, o Playboy Almofadinha, aquele da mordaça. Em outra postagem, irei comentar sobre o mito do desenvolvimento no projeto da Estrada Real.